Dicas para germinar Tintureiras (e não só)
Não sei se já repararam, mas já cheira a Primavera lá fora!
E Primavera, por aqui, quer dizer começar a planear sementeiras. Há já algum tempo que disponibilizámos na nossa loja online algumas sementes das nossas próprias plantas tintureiras, mas como nem toda a gente tem muita experiência em semear e plantar algumas espécies que têm necessidades específicas, aqui vai um post com algumas dicas para terem muito sucesso nas vossas sementeiras desse lado!
Estas dicas são para facilitar o trabalho de sementeira a amadores e a quem (ainda) percebe pouco ou nada disto. São para quem tem condições limitadas perceber que é perfeitamente possível germinar e ter plantas em vaso ou sacos de plantação. Se têm terrenos e quinta, também podem ser úteis, claro.
Outra coisa que devem saber: na área da agricultura, a parte da germinação é quase sempre deixa a cargo de viveiros especializados, precisamente porque é algo que requer conhecimento, condições e alguns truques. Fazer germinar e fazer as plantas chegarem saudáveis à plantação é uma arte!
Primeiro, aqui ficam algumas dicas gerais relativas a sementes e germinação:
#1: Garantam que as sementes são recentes e têm alguma garantia de qualidade
Uma semente é uma reserva de vida, mas essa reserva não dura para sempre. A durabilidade de uma semente pode variar imenso, de acordo não só com as condições em que são armazenadas, mas com a própria espécie.
Quando adquirirem sementes, tentem saber quando as sementes foram colhidas, de que espécie/variedade se trata e se o vendedor já tem experiência com aquela planta, neste caso na prática tintureira.
#2: Todas as sementes têm as suas particularidades
Sementes de espécies diferentes têm exigências diferentes para que as possamos fazer germinar. Não se esqueçam que a semente é um dispositivo que aguarda as condições ideais para que possa transformar-se em vida com garantia de que tem futuro.
O nosso papel é perceber do que é que ela precisa e providenciar. Antes de se porem a enterrar sementes na terra, vão pesquisar sobre a planta e as suas necessidades: precisam não só de a fazer germinar, mas também de garantir o bom crescimento durante as primeiras semanas de vida, que são as mais críticas.
#3: Épocas de sementeira
Por aqui tenho as sementeiras/plantações concentradas na Primavera. Não faço sementeiras noutras alturas do ano, mesmo para aquelas espécies que o permitem. Começo só em meados de Março, porque aponto as plantações para o final de Abril/início de Maio, para não coincidirem com a sementeira do Linho e porque não gosto de lutar contra a meteorologia.
A temperatura é um fator muito importante e se as temperaturas estiverem demasiado baixas, as plantinhas não vão germinar nem crescer tão rápido.
#4: Substrato para germinação
O substrato é a “terra” que vão usar para semear as vossas plantinhas. Aconselho vivamente a que comprem substrato especial para germinação numa qualquer loja da especialidade.
#5: Recipientes para semear
A minha preferência é sempre germinar as tintureiras em tabuleiros/recipientes e depois plantar no local pretendido e com a disposição necessária.
Não aprecio tabuleiros/recipientes de cartão porque o substrato seca mais rapidamente e obriga a mais manutenção. Podem usar vasos pequenos ou outros recipientes de plástico, desde que tenham furos no fundo para escoar a água em excesso e regar. Se forem adquirir tabuleiros, escolham um com alvéolos grandes e feito de plástico de alta qualidade, para que durem muitos anos. Usem tabuleiros com alvéolos grandes, para a planta ter mais espaço para crescer antes da plantação.
Em pequena escala, e no caso destas espécies que aqui descrevo, não penso que seja boa ideia semear directamente na terra, porque a taxa de sucesso vai ser menor.
#6: Humidade
Uma condição essencial para a germinação é expôr a semente à humidade que vai quebrar a sua dormência.
É preciso manter o substrato húmido, mas não demais (com demasiada humidade, podem surgir fungos. Sem humidade, não há germinação).
O que resulta sempre bem para mim é, antes de colocar as sementes, mergulhar o tabuleiro (já com substrato) num recipiente com água até a terra ficar completamente húmida, sem estar alagada (importante!). Se ficar demasiado molhada, pressionem a terra para expelir a água em excesso. Também é assim que rego os tabuleiros durante esta fase.
Um erro bastante comum é semear e depois dar apenas uma regadela rápida, o que não deixa o substrato uniformemente húmido.
#7: Profundidade
Atenção à profundidade a que enterram a semente. Esta deve ser proporcional ao tamanho da semente.
Se a semente for deixada demasiado à superfície, ela pode não germinar por não estar em contacto com a humidade ou se germinar, irá ficar pouco enraizada e a planta terá tendência a tombar. Se enterrarem demasiado, pode não conseguir chegar à superfície. Usem o bom senso e pensem como uma semente que precisa de fixar bem as raízes, mas também de conseguir emergir na superfície!
#8: Entre germinação e plantação
O período entre a germinação e a plantação é o mais crítico. Com a devida atenção, não é difícil fazer germinar sementes, mas pode ser complicado fazê-las crescer bem até chegarem ao dia da plantação. É durante este período que elas estão mais frágeis.
É bom mantê-las num sítio protegido de vento, demasiado frio ou demasiado calor. Têm também de garantir que têm bastante luz, porque senão podem acabar por ficar demasiado altas e de caule demasiado fino (pouco robustas).
Varia bastante, pois algumas plantas desenvolvem-se mais rápido que outras e as condições meteorológicas influenciam bastante, mas passado cerca de 1 mês e 1/2 costumo plantá-las.
#9: Soluções para quem quer cultivar, mas não tem terreno
Se não tiverem terreno e mesmo assim quiserem tentar a mão no cultivo das tintureiras, podem explorar outras alternativas. Uma pequena varanda, é suficiente para cultivar muita coisa. Muitas espécies dão-se bem em vasos grandes e floreiras, mas também podem experimentar sacos de cultivo como este que costumam dar excelentes resultados!
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Agora a segunda parte, com algumas informações mais específicas para as plantas tintureiras que considero mais importantes:
Pastel-dos-tintureiros (Isatis tinctoria)
O Pastel-dos-tintureiros não é difícil de germinar. Se as sementes forem boas e lhes dermos uma ajudinha, em menos de 1 semana começam a rebentar.
Há apenas uma coisa que faço, porque acelera bastante a germinação: a semente da Isatis está dentro daquela cápsula que tem a forma de folha azulada. Antes de semear, abro a cápsula rasgando-a a meio e retiro a semente que é oval, de cor amarela/laranja e pequenina. Semeando apenas o que interessa, a germinação é muito mais rápida e sem complicações.
Depois enterro-as no alvéolo, pressionando um pouco com o dedo, para garantir que a semente fica bem envolvida pelo substrato húmido.
Ruiva-dos-tintureiros (Rubia tinctorum)
As sementes da Ruiva-dos-tintureiros são aquelas pequenas bagas, que surgem no pico do Verão, e que ao secarem se transformam em pequenas pedras negras. O tegumento (camada exterior) é bastante duro, pelo que para facilitar e acelerar a germinação faço 2 coisas: escarificar e demolhar.
A escarificação consiste em quebrar o tegumento, de forma a facilitar a entrada da humidade no interior e assim quebrar a dormência da semente. Há muitas formas de fazer isto, mas a minha preferida é com um x-ato com lâmina bem afiada, com que raspo levemente a superfície da semente. Obviamente, têm que ser muito cuidadosos a fazer isto para não danificar a semente. Às vezes uma lima das unhas é o suficiente. Se não quiserem arriscar, ponham simplesmente as sementes de molho, como descrevo a seguir.
No dia antes da sementeira, coloco as sementes de molho em água morna, de forma a amolecer a camada exterior (isto também é considerado uma técnica de escarificação). Se repararem, a água fica de tom ligeiramente rosado, revelando já a cor que a Rubia nos vai dar!
Para semear: substrato bem húmido, semente enterrada a profundidade aceitável e esperar.
A Rubia demora um pouco mais a germinar que as restantes. As primeiras começam a surgir passadas cerca de 1 1/2 - 2 semanas.
Lírio-dos-Tintureiros (Reseda luteola)
As sementes de Lírio-dos-tintureiros são mais pequenas que a cabeça de um alfinete. Não precisam de ser colocadas de molho, nem nada mais antes da sementeira, mas têm uma especificidade importante que é a de necessitarem de luz para germinar. Portanto, estas sementes não são enterradas. Espalho-as na superfície do substrato já húmido e depois pressiono a superfície para as envolver na humidade.
Passada uma semana devem começar a germinar, mas podem demorar mais tempo.
Como as sementes são microscópicas, estas são mais ou menos polvilhadas no substrato e, como consequência, acabam por germinar mais do que aquelas de que necessitamos. Por causa disto, podemos repicar as que estão a mais e colocá-las noutros vasos/tabuleiros, se não as quisermos desperdiçar.
Tal como o Pastel, também o Lírio-dos-tintureiros é uma planta com raiz aprumada. É melhor usarem tabuleiros com alvéolos grandes/altos para a raiz ter espaço para crescer em altura.
Coreopsis tinctoria
As sementes de Coreopsis são muito fáceis de germinar e ideais para quem só quer atirar as sementes à terra e não pensar mais nisso até ser altura de vir colher as flores!
É só seguir as mesmas instruções que dei para o Lírio-dos-tintureiros, mas estas podem ficar um pouco mais enterradas. Germinam muito rapidamente, vão crescer bem até à plantação e dar muitas alegrias!
Indigo indiano (Indigofera tinctoria)
As sementes de Indigofera, seja qual for a variedade (tinctoria, suffruticosa…), são micro-feijões bem duros. Com estas não facilito em termos de qualidade: têm de ser recentes e ter garantia para não haver frustrações. Para as germinar rapidamente, trato de as escarificar (raspo um pouco da superfície com um x-ato) e colocar de molho de um dia para o outro. Depois, para acelerar o processo, coloco-as dentro de filtros de café húmidos e guardo estes dentro de um saco de plástico cheio de ar (micro-estufa). Passados 3 ou 4 dias devem ter começado a germinar. E reparem como as sementes já tingem de azul!
Quando a raíz já tem 1cm aproximadamente, coloco-as no substrato (raiz para baixo) e é deixá-las crescer!
As indigoferas gostam de climas húmidos e quentes, portanto não se vão desenvolver facilmente com temperaturas baixas/amenas como as do nosso país, a não ser que estejam em estufa.
Índigo japonês (Persicaria tinctoria)
O truque com o Índigo japonês é garantir que as sementes foram colhidas na última temporada. As sementes de Persicaria tinctoria são notórias por perderem a viabilidade muito rápido. Se não usarem as que colheram na última temporada, o mais provável é não germinarem no ano seguinte.
Tirando este pequeno grande pormenor, são bastante fáceis de germinar. Basta seguir as instruções gerais e em cerca de uma semana devem começar a ver acção no tabuleiro.