Fiar a lã ludra com a D.Benta
Numa ida a Salto, com o propósito de visitar o Pisão de Tabuadela, onde foram apisoadas as últimas mantas de burel feitas pelas Mulheres de Bucos, tive a oportunidade de conhecer a D.Benta. À porta do seu café, falou-me da forma como fia a lã ludra, mostrou-me um truque que usa para manter a maçaroca bem firme no fuso e ensinou-me a torcer dois fios usando um fuso normal.
On one of my trips to Salto, with the purpose of visiting the Pisão de Tabuadela (The Tabuadela Wool Stomping Facilities), where the last burel blankets made by the Women of Bucos were felted, I had the chance of meeting D. Benta. Standing at the door of her café, she told me about how she spins her wool without washing it first and showed me a trick she uses to keep the yarn firmly set on the spindle and taught me how to ply two strands using a regular spinning spindle.
1. A D.BENTA EXPLICA PORQUE FAZ A CAMA ÀS OVELHAS COM CARQUEJA
O trabalho da D.Benta é especial porque é ela que, desde que nasce uma ovelha no seu rebanho até fazer um par de meias, controla todas as fases do ciclo da lã.
E os cuidados, tendo em conta que um dos objectivos da criação destes animais é utilizar a lã, são diferentes desde o início. Enquanto que a maior parte dos animais têm a sua cama nas cortes feitas com palha, as da D.benta são aprovisionadas com carqueja.
Um dos problemas da palha é desfazer-se facilmente e ficar presa no velo dos animais, o que dificulta bastante o trabalho de limpeza das fibras, na fase de esgadelhar. Por outro lado, a palha não cria uma camada de protecção suficientemente alta para evitar o contacto da lã com a urina e as fezes.
Com a utilização da carqueja, protege-se a lã do contacto com as fezes do chão das cortes e diminui-se a quantidade de resíduos que ficam nas fibras, reduzindo o esforço de limpeza posterior.
2. BENTA EXPLAINS WHY SHE USES GORSE ON THE SHEEP STABLE GROUND
Benta's work is special because she alone, since a sheep is born until a pair of socks are knitted, controls all the phases of the wool cycle. The care she has, considering that one of her goals is to use the wool, are different from the beggining. Most animals have the stable "beds" lined with straw, but Benta's sheep are lined with gorse.
One of the problems with straw is that it breaks apart easily and gets stuck in the animal's wool, which will make it more difficult, later, in the tousling phase, to have it properly clean.
On the other hand, straw doesn't make a good enough barrier to avoid that the animals get in touch with the feces and urine.
Using gorse will prevent wool from getting dirty from the animals feces and it won't leave almost any residues on the wool, making it easier in the cleaning phase.
2. A D.BENTA EXPLICA PORQUE FIA A LÃ LUDRA
O ludro é a sujidade natural do velo da ovelha, que ainda não foi lavado após a tosquia. O mais frequente é a lã ser lavadaantes de ser trabalhada, mas a D.Benta trabalha a lã suja para tirar partido da gordura natural do pêlo da ovelha que permite fiar com mais facilidade. Cruzando esta informação com a D.Ilídia, também fiquei a saber que este é um truque para fiar um fio mais fino porque, quando for lavado, o ludro sai e o fio fica com metade da espessura.
2. BENTA EXPLAINS WHY SHE SPINS THE WOOL WITHOUT WASHING IT FIRST
Benta explains why she spins the wool without washing it first. Unlike what I have seen, Benta spins the wool without washing it, just like it came after shearing it from the sheep, because she says it helps the spun yarn to be more perfect and even. Asking Ilídia about this, she told me this is also a small trick to spin a really thin ply because, when it is finally washed, the dirt will come out and the yarn will be half as thick.
3. SECAR O LUDRO DA LÃ
Antes de esgadelhar, e para facilitar um pouco mais o trabalho, a lã em estado ludro deve ser colocada a secar exposta ao sol quente,ressequindo a maior parte da sujidade, que se transformará em pó. Depois de seca, a lã é aberta com as mãos, libertando facilmente o ludro. Para não danificar as fibras, a lã é aberta a partir da raiz do velo, e não ao contrário.
3. DRYING THE DIRT OFF THE WOOL
Before tousling the wool, and to make the job easier, the dirty wool can be put out in the hot sun, so that most of the dirt dries out and turns into dust. Then, to make sure the fibers aren't damaged, the wool is tousled by opening it from the root and not from the end of the fiber.
4. ESGADELHAR E CARPEAR A LÃ
Para preparar a lã para fiar é preciso esgadelhá-la e carpeá-la para fazer o manelo. Esgadelhar é separar a lã com os dedos, removendo as sujidades maiores e pedaços de lã sem qualidade para fiar. Carpear consiste em dispôr as mechas de forma paralela, umas em cima das outras, até acumular lã suficiente para ser colocada na roca.
4. TOUSLING AND FINGER COMBING THE WOOL
To prepare the wool for spinning first you have to pick and finger comb it. First you pick the wool with your fingers, removing the bigger bits of dirt and pieces of wool that aren’t good enough to spin into a yarn. Then you finger comb it, setting up the wool rovings in parallel manner, on top of each other, until you have enough wool to be placed on the distaff.
5. FIAR USANDO A ROCA E O FUSO
D.Benta fala um pouco sobre a forma como fia a lã e explica porque é que só fia no tempo de Inverno.
5. SPINNING WITH A SPINDLE AND DISTAFF
D.Benta explains how she spins the wool using the traditional portuguese spindle and a distaff.
6. ARRANJAR A MAÇAROCA NO FUSO
Enquanto se fia, a maçaroca de lã vai crescendo no fuso. Para evitar que se desfaça quando começa a ficar muito grande, a D.Benta tem um pequeno truque para a ajustar.
6. ARRANGING THE WOOL ON THE SPINDLE
While spinning, the wool on the spindle keeps growing and to stop it from falling, D.Benta has a small trick she uses to fix it.
7. TORCER O FIO USANDO UM FUSO NORMAL
Neste vídeo, a D.Benta mostra como se torcem dois fios de lã utilizando um fuso normal alterado com uma pequena travessa.
7. PLYING THE YARN WITH A REGULAR SPINDLE
Outside her little café, Benta shows us how to ply a 2-ply yarn using a normal spindle with nothing but a twigg crossed over.
“Ora, agora apanha-se o fio. E agora bota-se-lhe a lançada para se continuar a torcer. E agora, torce-se o fio e, aqui, desdoba-se um bocadinho que é para a torcedura vir para o novelo. E agora, esfrega-se um bocadinho o fio que é para a torcedura recolher ao novelo. E agora, tira-se a lançada e apanha-se com o fuso. Novamente a lançada. E continua-se assim até terminar. E depois de que se termina de torcer, faz-se uma meada e lava-se num bocadinho de água morna, que é para ficar… para o ludro sair e para ficar a lã limpinha. E depois de estar a meada seca, põe-se numa dobadoira, doba-se para o novelo e depois é que se faz o meiote. E é assim o processo da lã.”