O Linho - Sementeira
A investigação que andei a fazer até agora fez-me perceber o quão complexa é esta plantinha e como a qualidade do linho que vamos ter depende quase exclusivamente do que for feito precisamente na altura da sementeira, e bom, também de uma série de factores meteorológicos que não podemos controlar.
A época e a densidade da sementeira são os dois factores cruciais.
A questão da densidade vou deixar para mais tarde, porque é mais fácil explicar com imagens das plantas já crescidas.
Quanto à época de sementeira, na região onde nos encontramos (litoral norte), esta pode começar a partir de meados de Março. No interior será porventura um pouco mais tarde.
Importante é esperar até que os frios intensos e as geadas já tenham terminado - se o tempo estiver demasiado frio, a planta não desenvolve.
No entanto, se o tempo estiver demasiado quente, acelera o ciclo vegetativo do linho e este tem um crescimento demasiado rápido, formando plantas mais baixas e ramificadas - algo que também não queremos, já que a ramificação quebra as fibras, e assim ficamos com fibras curtas e de menor qualidade.
O que procuramos idealmente é uma temperatura amena e equilíbrio de água, para que a filaça cresça a um ritmo constante e isso só acontece no início da Primavera. No interior, a época parece-me ser ainda mais curta, já que o frio demora mais tempo a desvanecer e o calor instala-se de forma mais intensa, mais cedo.
Como já mencionei anteriormente, o nosso Linho foi semeado bem mais tarde do que devia, a 23 de Abril, mas foi o que foi possível.
Semeamos Linho Galego proveniente de Ponte de Lima.
Parte dos talhões foram semeados em linha (espaçadas cerca de 10cm) e a outra a lanço.
No linho, o habitual numa sementeira feita à mão é que seja feita a lanço, mas quisemos experimentar das duas formas porque haviam várias questões a perceber. Por um lado, achamos que a sementeira em linha permitia-nos, na fase inicial de crescimento, distinguir mais claramente o que era o linho e o que era infestante, para podermos limpar o terreno. Por outro lado, como o linho é suposto ter uma distribuição relativamente uniforme no campo ( que remete para a questão da densidade da sementeira), faz todo o sentido semear a lanço e, de facto, é assim que se faz tradicionalmente.
Depois de espalhada a semente, a zona deve ser coberta utilizando uma grade de dentes ou, quando é uma área muito pequena como a que nós semeamos, usa-se simplesmente um ancinho.
A semente do linho é pequena e deve ficar enterrada a uma profundidade de cerca de 1 cm.
De seguida, é preciso compactar um pouco o solo, para aconchegar a terra à semente e também para criar um efeito "sifão" - a compactação vai bombear a humidade da camada inferior e não é necessário efectuar qualquer rega nesta fase inicial. Mais uma vez, como a área que semeamos é bastante pequena, não chegamos a recorrer a um rolo para compactar - bastou-nos bater bem a terra.
A semente do BPGV tem uma taxa de germinação de 95%. Mas a acrescentar a estes 5% que naturalmente não vão germinar, o Eng.Silva diz-nos que 20% das sementes com capacidade de germinação irão ainda falhar por outros factores: por exemplo, porque acabam por ficar enterradas demasiado fundo, ou porque ficam demasiado à superfície e são comidas por pássaros.
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[23.04.2015 / Este post refere-se à investigação e actividades desenvolvidas no âmbito do programa Saber Fazer em Serralves ]