Apisoar a lã

 

A folhear o Tecnologia Tradicional: Pisões Portugueses achei uma coincidência engraçada que as únicas fotos de um pisoeiro em acção fossem as do pai do Sr.Francisco, pisoeiro do Pisão de Tabuadela, que já tive a oportunidade de visitar. 
Este senhor, cujo nome não surge em lado nenhum e que também ainda não tive oportunidade de saber, é a razão pela qual o Sr.Francisco mantém firme a ideia de devolver o pisão do seu pai ao funcionamento. 

Neste livro, do funcionamento deste pisão específico vem descrito:


"Antes de deitar a rede (cherga) na masseira, lava-se bem esta da suarda das pisoagens anteriores. Afastam-se os malhos da masseira, e travam-se: um trava porque fica com o topo da rabadilha encostado ao topo da leva do eixo que lhe corresponde; o outro trava-se atravessando pela frente da sua varela um pau com uma ponta metida num buraco da parede e a outra extremidade passada por trás da varela do primeiro malho.
(…)
As primeiras duas horas pisoa-se com água fria contínua, para lavar a cherga.(…)
Ao lado da masseira está a caldeira. (…) Por baixo da caldeira fica uma pequena lareira, e é ao lado desta que está o catre onde o pisoeiro dorme na noite em que fica no pisão. A água quente tira-se da caldeira com um púcaro.
Passadas as duas primeiras horas da pisoagem, me que se usou apenas água fria para lavar a cherga, passa-se a deitar água quente. A água quente deita-se de uma e meia em uma e meia ou de duas em duas horas; se se tem mais pressa deita-se a água mais a miúdo.
A água quente é para o pano não secar, senão corta. Deitar água quente chama-se caldear.

 

De tempos a tempos, trava-se o pisão com o pejadouro e o pau dos malhos, tira-se o pano da masseira; puxa-se à largura, e desdobra-se se há lados pegados, encartando o pano.
Volta-se seguidamente a estender o pano na masseira, deita-se água quente, e liga-se novamente o pisão. E é assim todo o primeiro dia e toda a noite e o dia seguinte, até ao final. O estender e o desdobrar do pano não se repete tantas vezes como o caldear. Endireita-se umas seis vezes por teia, mas deita-se água quente - caldas - entre duas endireitadelas.

O pano é pisoado durante 24h, e, quando termina a pisoagem, pára-se o pisão, estende-se e endireita-se o pano, mede-se à vara, enrola-se novamente sobre a mesa lateral, põe-se o rolo em pé dentro da masseira e deita-se água quente; volta-se depois de pernas para o ar, e deita-se água quente por esse lado. Coloca-se de novo o rolo na masseira, de lado, exactamente em frente de um dos malhos, e põe-se de novo o pisão a trabalhar, actuando porém apenas esse malho, porque o rolo de pano só ocupa metade da masseira. Trabalha 5 a 10 minutos, durante os quais o rolo é bem vigiado, para não se desdobrar. À medida que o rolo é batido, o pano vai rolando, amparado pelas mãos do pisoeiro. Esta pisoagem é para espremer, e sobretudo para assentar o pano (ficar direito). Para acabar, trava-se de novo o pisão, põe-se o rolo de pé na masseira, desenrola-se na mesa lateral, e enrola-se pela outra ponta num pau direito e redondo que antes se molhara, e que se retira depois de se ter enrolado todo o pano; pousa-se o rolo a escorrer numa prateleira que há atrás da masseira, e fica aí umas 4 ou 5 horas a arrefecer; se se põe ao sol antes de arrefecer, o pano fica arripiado; e, finalmente, estende-se ao sol várias horas, a secar.

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