Fátima Gomes, Tecedeira

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Os tapetes da D.Fátima Gomes ficaram-me na memória desde a primeira vez que os vi e toquei, em Agosto passado. Neles há um lado rústico que respeita a beleza natural da lã e, ao mesmo tempo, conseguem ser incrivelmente sofisticados na sua simplicidade.
Em Dezembro aproveitamos o regresso de Trás-os-Montes e passámos em Mirandela para lhe fazer uma visita.

A lã da Ovelha Churra Badana é tratada apenas por ela logo após a tosquia. A utilização da lã churra, apesar de ser local, a meu ver não é acidental. A espessura e densidade das fibras dá-lhe mais estrutura, o que a torna mais adequada para trabalhos de maior dimensão. No seu atelier há todo o tipo de ferramentas para trabalhar a lã, desde as exclusivamente manuais, como as cardas e os fusos, passando por rodas de fiar, até máquinas de cardar e fiar semi-industriais do início do séc.XX – estas autênticas raridades ainda em funcionamento.

 
 

Quando as máquinas deixam de funcionar por uma avaria, tal como havia acontecido com a máquina de cardar no dia em que a visitamos, D.Fátima apoia-se sempre no trabalho exclusivamente manual.
Para fiar a lã tão grossa que usa para tecer os seus tapetes, usa um fuso gigante que esculpiu a partir do cabo de uma vassoura, e o manelo é tão grande como a máquina de cardar permite.

A partir daqui tudo aumenta de proporção e, para conseguir fiar desta forma, a técnica é bastante diferente daquelas que observei até hoje. 
O fuso é girado com a ajuda da perna, onde é esfregado para torcer a lã. Na mão esquerda a lã é puxada sem o auxílio da roca, usando a mão inteira.

 
 

A proporção gigante prossegue do fuso para o tear.
Meadas e meadas de grossa lã, que entretanto são lavadas antes de serem tecidas, estendem-se penduradas pelos teares, pelas rodas, pelas portas, por todo o lado.

No seu tear não existem as pequenas lançadeiras, que me habituei a ver em teares por todo o lado. A lã é simplesmente enrolada numa vara, que vai ser usada para a passar entre a teia. A teia, também em lã, é especialmente fiada para ela por uma outra senhora.

 
 

 Nos tapetes lisos a tecelagem é simplesmente batida, e por vezes a superfície cardada com escovas apropriadas – técnica também usada nas mantas e cobertores, para os tornar mais espessos e quentes.
Naqueles que são, para mim, os tapetes mais bonitos e trabalhosos, D.Fátima puxa pequenos nós de lã usando apenas os dedos, um a um, ao longo de cada linha. O resultado são superfícies ritmadas por pequenas bolinhas de lã, em branco, em castanho e em cinza

É que a D.Fátima aprendeu a tecer e a trabalhar a lã com a sua mãe, mas desde essa altura que tem vindo a imprimir o seu próprio cunho ao trabalho que faz, e a sua sensibilidade criativa transborda por todas as fibras.
É a paixão dela que espalha a lã por todos os cantos, multiplica as ferramentas, faz crescer tapetes e até leva o marido a desenhar-lhe teares à medida do seu trabalho.

 
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