O pano que estas sementes dão
Já conheço a Maria das Dores há cerca de dois anos. Impossível de esquecer a altura em que a conheci, porque quase fui à falência por lhe comprar metros e metros do tecido que ela produz, integralmente por conta própria, a partir daquelas sementes de linho galego. Até hoje tenho-o bem guardado e só gastei um quadradinho muito pequeno para uma ocasião muito especial.
Eu conheço ainda algumas pessoas que produzem linho artesanal, mas uma coisa é produzir um linho grosseiro qualquer, mesmo que feito à mão, e outra coisa é a maravilha que a Maria das Dores cultiva e tece.
O estilo do trabalho da Maria das Dores recai no âmbito do tradicional, mas a abordagem dela tem pouco de repetição inconsciente da tradição. Falamos durante horas, e ela nunca se cansa de frisar que a ela só lhe interessa fazer "o melhor trabalho" e produzir "o melhor pano". Não ouço isto tantas vezes como gostaria.
Não é o mais barato, nem o mais fácil ou o mais rápido. É o melhor, porque ela sabe que é a única forma de se diferenciar quando chega a altura de vender o que produz, e é assim que consegue sustentar uma casa com um trabalho que muitos dizem que não tem futuro: fazendo sempre melhor.
A Maria das Dores é muito fiel ao Linho Galego. Já experimentou outras variedades estrangeiras, que crescem mais em altura e são mais rentáveis na quantidade de fibra que produzem, mas assegura que a fibra produzida é mais grossa e que dela não consegue fiar um fio para tecer panos tão leves e fluidos como gosta. Pela mesma razão, escolhe conscientemente processar o linho de forma artesanal. Não porque não tenha outra forma de o fazer, mas porque tendo tido acesso a maquinaria semi-industrial, acabou por não a usar porque achou que o trabalho que produzia não era igualmente bom.
Pelo que fui aprendendo até hoje sobre estas variedades de linho, penso que uma das razões por trás disto é o facto do Galego produzir uma qualidade de fibra que não é apenas mais curta, mas também mais fina, o que a torna mais frágil, exigindo mais cuidado no seu processamento, quando dele se quer criar um trabalho de alta qualidade.
The cloth from those seeds
I've known Maria das Dores for about two years. I couldn't forget the time I met her because I almost went bankrupt for buying yards and yards of the fabric she manufactures completely on her own, right from those seeds. I've been saving that fabric ever since and have only used a small square for a very special occasion.
I know more people that manufacture artisanal linen, but it is one thing to make a basic rustic linen, even if completely handmade, and another one is this wonderful thing that Maria das Dores grows and weaves.
Her style recalls much of the traditional work from her region, but her approach to work has nothing to do with an unconscious repetition of tradition. We've talked for hours and she keeps repeating how her goal is to produce the "best work" and the "best cloth". I don't hear this as often as I'd like.
It's not the cheapest, the easiest or the fastest. It's the best because she knows it is the only way of differentiating her work when it is time to sell it, and that's how she manages to support her household with a type of work that many say that doesn't have a future: always doing the best she can.
Maria das Dores is faithful to the Galego Flax. She has tried other foreign varieties, that grow taller and are more profitable, but she assures me that those varieties grow a thicker fiber, although longer, and that she can't spin a yarn thin and light enough to weave her cloth as fluid as she wants. Another thing is that she chose to process the fiber, from flax to linen, in a completely artisanal way, for the same reason. She has had the opportunity to speed up the process using semi-industrial machinery, but didn't use it because she felt her work wouldn't be as good.
From what I have learnt so far from the different varieties, I think one of the reasons behind this choice, of remaining completely artisanal, is the fact that the Galego Flax grows not only shorter fibers, but also thinner ones, that are inherently more fragile and demand more care during its processing.